sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

recomeços de sexta-feira

estive num recesso longo com a minha produção literária. uma pena! penso que nunca, em hipótese alguma, devemos ou podemos largar aquilo que nos faz bem. eu gosto muito de escrever. não sei fazer poesia, mas adoro a possibilidade de trazer um despertar poético às minhas cirandas e encontros íntimos e literários através da prosa. 

o recesso foi de dois anos e meio, e eu nem saberia dizer como sobrevivi. tudo porque, estive desplugada das minhas velhas convicções. me deparei com uma militância negra, tardia (para mim), e precisei repensar a casa familiar, os afetos, a cidade natal e a assinatura. 

não foi nada tranquilo, tal folga. foram horas a fio acampadas por uma noite longa, quando me deparei mulher, negra e sem uma classificação clara sobre a minha classe social. estar no Brasil e não pensar tais categorias e etc pode deixar o sujeito num discurso apático. a injustiça aqui rege e dita os privilégios - da cor da pele, origem e gênero. por isso, decidi olhar de frente o problema e ver o que sobrava. assim, ao escrever tais linhas aqui, preciso me corrigir, não foi exatamente um recesso. afinal, não há descanso na linha de frente. desconstruir e reconstruir as suas referências e discursos são dias de pouca paz. não posso jamais dizer que foram momentos de extrema solidão. não. conheci pessoas incríveis nesse meio tempo. me apaixonei por todas, como se eu pudesse habitar corpos sem GPS. não há geografia mais especial do que poder encontrar no outro o seu próprio silêncio. poder perder-se tanto faz, quando e por quê. achar-se com os seus, com certeza, nos permite dar novos significados e presenças para um outro mundo necessário. como está aí nunca esteve bom e pautar tão por baixo os nossos quereres, playboy, não dá mais. 

pretendo daí escrever e não sobrecarregar os caracteres com o peso da chibata ou do cinismo midiático.

então, decidi por esses totens íntimos, como referência às esculturas Templos de Oxalá, do artista plástico baiano Rubem Valentim, presentes no Museu de Arte Moderna da Bahia (em Salvador). quando as conheci, tive daqueles deslumbres, de resgate ancestral e renascimento. e assim desejo o meu novo blog. a linha tênue entre o original e as vias de fato, quando as contradições superam qualquer convicção. 

bom começo para nós, ainda mais numa sexta-feira: dia de Oxalá!

vem comigo... eu, prosa. você, leitor!




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